terça-feira, 8 de março de 2011

Partido de Kassab é 'distorção da legislação', diz especialista


Para pesquisadora, nova sigla teria perfil de centro-direita, atrairia traidores do governo Dilma e descontentes de nanicos

A ideia do prefeito Gilberto Kassab (DEM) de criar um novo partido para se fundir ao PSB é perfeitamente viável do ponto de vista da legislação eleitoral. Para a Ordem dos Advogados do Brasil, o Tribunal Superior Eleitoral deverá deferir tanto a criação do novo partido como a fusão com outra legenda. Do ponto de vista do mérito, no entanto, a ação pode ser questionada, de acordo com a cientista política Maria do Socorro Sousa Braga. Para a especialista em processos partidários, a nova sigla seria uma “distorção da legislação”.

iG – Como o eleitor pode avaliar a criação de um novo partido com o objetivo de se fundir a outro?
Maria do Socorro - É uma saída estratégica, uma distorção da legislação. A própria questão da lei de infidelidade partidária acabou inibindo a troca de partidos, que girava em torno dos 30% (a lei estabelece que o mandato pertence ao partido). Mas deixaram uma brecha. A criação de um novo partido para fusão é a brecha que acaba passando a imagem de que o sistema partidário é caótico, onde pode tudo. É uma contribuição negativa ao sistema político.
G – Como podemos entender a possível união do DEM, um partido de direita, ao PSB, dito socialista e de origem na esquerda?
Maria do Socorro - A união PSB e DEM é muito estranha, mas acompanhando o PSB nos Estados, vejo que o recrutamento é muito próximo aos partidos de direita. Os quadros do PSB têm um perfil muito parecido com os do DEM. Se pensarmos nos grupos dos quais eles estão próximos, não fica estranho. Por exemplo, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, representante do capital, que foi candidato ao governo de São Paulo pelo PSB. Ele é representante do capitalismo. A cara pública, seus políticos e candidatos são de segmentos que também são representados pelo DEM. Claro que há candidatos mais à esquerda, como a deputada Luiza Erundina. Mas estes devem sair.

iG – Como a criação desse partido afetaria as eleições de 2012 e 2014?
Maria do Socorro - A ideia dessa fusão é de alguma forma furar a polarização entre PT e PSDB, tanto nas eleições municipais de 2012 em São Paulo como nas presidenciais em 2014. As eleições de 2012 serão fundamentais para mensurar o poder dessa coalizão em 2014. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (presidente nacional do PSB), quer ser vice em uma chapa com o PT, mas pode ser até com o PSDB. Em São Paulo, a fusão vai tentar furar o ciclo do PSDB. Conforme o peso da aliança, deve atrair outros quadros para formar uma frente com partidos pequenos de direita, além do próprio PDT, que já não apoiou o governo Dilma com relação ao salário mínimo. Para ter força, o novo partido não pode ser totalmente à direita, como o DEM. Tem que ser centro-direita para atrair outros partidos mais afinados com o governo. Ou seja, quanto maior a infidelidade ao governo Dilma, maior a possibilidade de uma recomposição a partir daí.

iG – Como o governo poderia diminuir a possibilidade de que infiéis migrassem para o novo partido?
Maria do Socorro – Depende da forma como farão a ocupação do segundo escalão, os cortes no Orçamento, as reformas prometidas na campanha...Tudo isso pode mexer com setores desses partidos mais fisiológicos, acostumados a barganhar o tempo todo. Vamos ter de avaliar quanto os partidos estarão perdendo ao sair do governo.

iG – Essa ação que a senhora chama de “fisiológica” pode afetar a aprovação de Kassab?
Maria do Socorro - Ela já está caindo e deve baixar ainda mais. Para certo público, essa ação fisiológica pode fazer diferença negativa. Mas grande parte do eleitorado está muito mais preocupada com seu cotidiano, fica à margem dessas questões de articulação política. Os aspectos negativos da administração não serão responsabilizados pela articulação.

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